Conteúdo
Home » Educação » Brincar » Profissionais da Educação compartilham experiências sobre práticas pedagógicas e brincadeiras para todas as crianças

Profissionais da Educação compartilham experiências sobre práticas pedagógicas e brincadeiras para todas as crianças

Profissionais da Educação Infantil participaram do II Seminário Compartilhando Práticas Pedagógicas Inclusivas do Projeto Brincar, que promoveu o intercâmbio de reflexões, vivências e aprendizagens sobre planejamento e realização de brincadeiras e atividades pedagógicas que envolvam todas as crianças, com e sem deficiência. O evento aconteceu no auditório da Secretaria de Estado dos Direitos das Pessoas com Deficiência, em São Paulo, no dia 20 de outubro, e contou com a presença de representantes de 79 unidades educacionais do município de São Paulo.

O Brincar é uma iniciativa da Fundação Volkswagen, em parceria com a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo e a Mais Diferenças, e atua desde 2017 na formação e acompanhamento de mais de mil profissionais das Unidades Educacionais e das Diretorias Regionais de Ensino.

Na programação do evento, palestras e apresentação de experiências das unidades que participam do projeto provocaram debates sobre o direito de brincar e a transformação das práticas pedagógicas em uma perspectiva acessível e inclusiva.

O início do seminário contou com atividade cultural conduzida pela cantora e dançarina, Zuzu Leiva, e mesa de abertura com Flavia Cintra, jornalista e representante do Memorial da Inclusão: os caminhos da Pessoa com Deficiência, e integrantes das instituições parceiras do Brincar: Ana Paula Ignácio Masella, da Divisão de Educação Especial da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo (SME-SP), Danielle Silverio Figueiredo, da Divisão de Educação Infantil da SME-SP, e Carla Mauch, da Mais Diferenças, que também representou a Fundação Volkswagen.

Professor Gabriel Junqueira fala sobre práticas pedagógicas na Educação Infantil

Na palestra “Protagonismo compartilhado entre crianças, adultos e conhecimento em uma escola de e para todos”, o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS) Gabriel Junqueira tratou da relação entre professores, alunos e conhecimento e propôs que esses três elementos sejam vistos sob uma nova lógica nas relações pedagógicas que se estabelecem na escola, sem que um deles seja considerado protagonista enquanto os outros são vistos como coadjuvantes. “A lógica do protagonismo compartilhado interessa à escola porque ela quer ver esses três elementos de mãos dadas”, afirmou.

“O convite ao protagonismo compartilhado é para refletirmos se em nossa docência estamos reforçando o lugar da criança como coadjuvante ou se, exercendo nosso protagonismo como professores, estamos convidando as crianças a serem protagonistas junto com a gente. Isso é prática cotidiana, inclusiva e compartilhada.”  O professor e pesquisador de Educação Infantil citou como exemplos do protagonismo compartilhado mudanças na prática de organizar filas para garantir o deslocamento das crianças no espaço escolar e a realização de acordos (“combinados”) com as crianças para estabelecer rotinas ou regras sobre uso dos materiais na sala, por exemplo. “A gente troca o ´pode isso?´, ´pode aquilo?´ por ´vamos combinar´?” (Clique aqui para assistir à palestra na íntegra em formato acessível, com intérprete de Libras e audiodescrição)

Desdobramentos do Projeto Brincar – O que acontece quando são usados diferentes materiais, linguagens e espaços da escola para que crianças com e sem deficiência brinquem juntas? Professoras de quatro unidades educacionais CEMEI Professora Leila Gallacci Metzker, CEU EMEI Cantos do Amanhecer; EMEI Elis Regina e EMEI Fernando de Azevedo apresentaram fotos e relatos de brincadeiras e atividades com as crianças realizadas no último ano, como parte do Projeto Brincar. Nas palavras da coordenadora pedagógica do Brincar Guacyara Labonia, as professoras compartilharam suas histórias e encantamentos com os resultados das diferentes brincadeiras e atividades desenvolvidas a partir das formações.

Professoras apresentam atividades realizadas em suas unidades educacionais

“Nós não pensamos: ‘vou criar esta atividade para incluir uma criança com deficiência.´ Planejamos a atividade para que as crianças com deficiência possam participar da mesma maneira que as crianças sem deficiência. O projeto Brincar nos ensinou a ver isso”, relatou a professora Aline Vicentini, da EMEI Elis Regina, enquanto mostrava fotos das crianças desenhando com carvão sobre um papel kraft que forrava todo o chão da sala. As 13 Unidades Educacionais que participam do Brincar registraram suas experiências em banners que ficaram expostos durante o seminário.

Para Alessandra Pereira Aguiar, da EMEI Fernando de Azevedo, as oficinas com famílias ajudaram a ampliar a compreensão sobre o papel da brincadeira na Educação Infantil. “Ainda há famílias que ficam ansiosas para que as crianças aprendam a ler e a escrever nesta etapa do desenvolvimento. Então, falamos sobre a importância de experimentar as brincadeiras e que a crianças se sujem com terra, tinta guache. O diálogo foi muito bom e houve a compreensão de que brincar não é ´perda de tempo´”.

Danielle Yamada, professora da CEU EMEI Cantos do Amanhecer, contou a experiência de sua unidade educacional ao envolver crianças com e sem deficiência nas mesmas brincadeiras. “Levamos Carlos, que tem paralisia cerebral e utiliza cadeira de rodas, para brincar com areia no parque. Mas não ficamos satisfeitas apenas com isso. Com as formações, surgiu a inquietação: como garantir que ele brincasse junto com as outras crianças. Tivemos a colaboração de outras professoras e encontramos formas de colocá-lo no balanço, no escorregador para que pudesse usar todos os brinquedos do parquinho“, comentou.

“As atividades do [projeto] Brincar nos ajudaram a criar vínculos com os pais por meio das oficinas com as famílias, a despertar esse olhar entre as professoras para a inclusão, a superar barreiras atitudinais e a ter contato com diversas linguagens. Muitas vezes a gente acha que há um modelo a ser seguido, mas não é assim. Cada criança é única, cada turma é única. Este é o ponto: descobrirmos juntos como fazer uma escola inclusiva que possibilite o direito a uma infância plena”, afirmou Maria Tereza Martins Mora, assistente de direção do CMEI Professora Leila Gallacci Metzker. (Assista aos depoimentos na íntegra no vídeo em formato acessível: “Compartilhamento de Práticas Pedagógicas Inclusivas”)

Para encerrar o evento, o escritor e ilustrador Gusti Rosemffet contou sobre seu trabalho relacionado à arte e inclusão. Gusti é professor da pós-graduação em ilustração, na escola EINA de design, e atua como diretor da

Associação WinDown, que promove oficinas de arte com pessoas com deficiência em Barcelona. Ele é pai de Malko, que tem síndrome de Down, e lança no Brasil o livro infantil “Não somos anjinhos” que trata dessa temática. “Passei a ter outro olhar sobre a inclusão a partir do nascimento do meu filho. Em meus trabalhos, reúno pessoas em um mesmo espaço e todas têm as mesmas possibilidades. Cadeirantes, pessoas com autismo, pessoas com deficiência cognitiva, crianças, adultos, profissionais e pessoas que nunca desenharam podem produzir e o trabalho ganha uma identidade coletiva. Para mim, essa relação que se estabelece é mais importante que o resultado final como obra de arte.”

“Para a maioria das pessoas com deficiência não é permitido decidir ou escolher coisas. Sempre há pessoas que decidem por elas, como uma forma de superproteção. Penso que a arte propõe o contrário. É uma oportunidade que essas pessoas têm de escolher e decidir por si mesmas”, comentou. Após o bate-papo, Gusti propôs aos professores alguns exercícios de desenho na oficina que teve como tema “Eu me transformo com o desenho. E você?”.

Assista a todos os vídeos do evento em formato acessível, com intérprete de Libras (Língua Brasileira de Sinais) e audiodescrição, na página da Mais Diferenças no Facebook.